
Esse post foi motivado pela entrevista cedida à Gazeta do Povo para a reportagem: Ideias malucas para salvar a Terra (16/09/2009)
Precisamos chegar à esse ponto? Se é o homem o responsável pelo aquecimento global e suas consequentes alterações climáticas, é certo que o próprio homem pode (e deve!) reverter o processo e esfriar o Planeta. Reconhecida a necessidade, o que segue é o grande “x” da questão: como melhor fazer isso. Enquanto politicamente se discutem as mais variadas formas de se reduzirem as emissões de gases de efeito estufa -de “carbon trading” à fundos soberanos anti-desmatamento- muitos cientistas argumentam que qualquer coisa que seja feita nessas bases não será suficiente para evitar sérias catástrofes climáticas já no curto-prazo. Tais cientistas, logo, propõe medidas de efeito imediato através da geo-engenharia: modificações de larga escala na Terra.
O conceito, embora novo, vêm ganhando muitos adeptos e trata de uma maneira muito pragmática a necessidade do “resfriamento global”. As principais técnicas discutidas, se não estivessem assinadas por professores do MIT e outros conceituados centros de pesquisa, seriam mais parecidas com roteiros de filmes de ficção científica do que com maneiras reais de se combater as mudanças climáticas.
Várias ideias já foram ventiladas, uma delas sendo a de “fertilizar” os oceanos com ferro, que causa a multiplicação dos fitoplânctons -pequenas algas que consomem dióxido de carbono enquanto crescem. Muito do carbono absorvido, entretanto, volta para a atmosfera quando as algas morrem, mas de 8 a 9% ficam efetivamente presos debaixo dos mares por décadas. O cientista britânico Raymond Pollard publicou um estudo na revista “Nature” que confirma o percentual de carbono preso, porém revela que a quantidade gerada de absorção de carbono por tonelada de ferro “fertilizado” foi superestimada pelos primeiros estudos em 15 a 50 vezes. Esse erro de cálculo pode inviabilizar o esquema… além de trazer à tona sérias dúvidas sobre a saúde dos ecossistemas marinhos após a tal “fertilização”.
Outros defendem a possibilidade de se criar mais sombra na Terra através de um gigante guarda-sol, “colocado” no espaço. O tal guarda-sol deverá ter mais ou menos a metade do tamanho do Brasil (4,1 mil km2) para “sombrear” o aquecimento esperado dentro do próximo século (caso as emissões se mantenham no ritmo atual). Talvez este seja um projeto um pouco ambicioso… embora o astrônomo Roger Angel pense que seja efetivamente possível defratar a luz Solar através de trilhões de lentes no espaço.
Um terceiro projeto de geo-engenharia é um tanto quanto menos radical que os anteriormente citados visto que “rouba” dos vulcões um conceito já provado pela própria Natureza: erupções de vulcões lançam na estratosfera partículas de sulfato que aumentam a reflexão dos raios solares e causam um consequente resfriamento. A idéia, portanto, é lançar artificialmente o sulfato. O “senão” desse método é que a capacidade de reflexão fica menor quando se satura a atmosfera com as partículas.
Um quarto método seria o que incentivar a formação de nuvens (que também refletem os raios do Sol) ao jorrar água do mar no ar. Esse método é pouco avaliado ainda mas, assim como os demais, não tratam com muitos detalhes das questões de custo, efeitos secundários (visto que qualquer um deles traz volumes enormes de tudo) e a própria viabilidade física dos métodos.
Tanto Raymond Pollard quanto Tim Lenton, que escreveu sobre geo-engenharia na “Atmospheric Chemistry and Physics Discussions”, concluem que nenhuma das metodologias hoje vislumbradas estão próximas da realidade. Ufa! Mais do que próximas à ficção científica, tais ideias de geo-engenharia tendem a passar uma falsa sensação de conforto ao homem, como se ele conseguisse encontrar uma forma mirabolante de resolver os problemas que criou sem os custos necessários de alterar seus padrões de consumo e sua maneira de encarar a escassez dos recursos naturais. Muito antes de desenvolver tais metodologias, devemos fazer a “lição de casa” e agir de maneira séria contra o aquecimento global, além de nos adaptarmos a ele pois ao que tudo indica (“reports” do IPCC) grande parte do problema já está aí e não tem mais solução de curto-prazo.